quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Gostaria tanto que as minhas tivessem a parte boa da infância que eu tive!


Como os tempos e as pessoas mudaram desde que eu era criança!


Eu cresci num prédio camarário, não tínhamos muito dinheiro mas nunca nos faltou nada. Eramos uma família humilde, como todas as que habitavam aquele prédio, mas todos vizinhos de corações fartos e que se davam muito bem. Boas memórias de infâncias que guardo graças a muitos destes vizinhos.

O meu pai era, e é até hoje, motorista de pesados e no verão trazia melancias que chegavam a pesar mais de 15 kilos. Como o frigorífico era pequeno e não cabia tudo o meu pai partia a melancia e dividíamos pelos miúdos todos. Era uma alegria! Se alguma das vizinhas fizesse compota oferecia um frasco a cada vizinha. Se alguém fosse á pesca dividia sempre peixe. Eu e o meu irmão vestimos roupas usadas de vizinhos mais velhos que depois iam para os mais novos e assim sucessivamente.

Tínhamos um irmão do coração que estava no Luxemburgo e quando vinha passar os meses de férias trazíamos sacas de rebuçados. E quando os meus pais iam a Espanha trazíamos gomas para todos.

No verão jogamos monopólio, cartas, às escondidas e ao rei manda. Andávamos ao soco mas no dia seguinte já éramos os melhores amigos do mundo outra vez. Íamos apanhar ponhas, castanhas e amoras como se fossemos descobridores de tesouros e comíamos o espólio sem sequer o lavar. Passávamos a vida em casa uns dos outros e ninguém mexia em nada, nunca desapareceu nada. Não era estranho, estar a brincar com 4 ou 5 rapazes e ser a única rapariga, não havia maldade.


Éramos remediados mas altruístas, e felizes com o pouco que tínhamos mas que aos nossos olhos era muito. Brincava na rua até ser de noite, andava sempre com os joelhos esfolados e os longos cabelos eriçados. Nunca soube o que era Bullying, nunca ligamos às marcas de roupa nem se as sapatilhas eram Puma ou Converse.    

Fazíamos desafios e brincadeiras que nos fazíamos rir que nem parvos. E todos tivemos piolhos e varicela ou sarampo ao mesmo tempo.

O altruísmo, a educação, tudo isto já se perdeu. Nem as crianças brincam assim, tornaram-se maldosas umas com as outras. Nós pais evitamos que os nossos filhos vão para casa dos amigos com medo que lhe possam acontecer maldades, devido às notícias de violação de menores que entram pelas nossas televisões diariamente. Se uma criança bate em outra lá vai uma mãe tirar satisfações com outra. Não deixam os filhos crescer e resolver os seus pequenos problemas
 Numa época em que deveríamos estar mais evoluídos parece que estamos piores. 

No meu prédio conheço poucos vizinhos mas digo bom dia, como está? Mas não fecham-se muito e já ninguém vai levar uma canja quando sabe que a vizinha está doente. Nem as crianças se juntam numa casa só a brincar ou a ver um DVD. Gostava que as minhas filhas tivessem tido a infância que eu tive, mas infelizmente, é tudo tão diferente. Mas sempre que puder levo-as a colher amoras, a fazer traquinices e apanhar bichos-carpinteiros, ver as sardaniscas e principalmente a ensina-las a respeitar e serem educadas e dizer sempre Bom dia, Olá e Obrigada!

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